16 outubro 2013

Conversas de gajas

"Quando Baltasar entra em casa, ouve o murmúrio que vem da cozinha, é a voz da mãe, a voz de Blimunda, ora uma, ora outra, mal de conhecem e tem tanto pra dizer, é a grande interminável conversa das mulheres, parece coisa nenhuma, isto pensam os homens, nem eles imaginam que esta conversa é que segura o mundo na sua órbita, não fosse falarem as mulheres umas com as outras, já os homens teriam perdido o sentido da casa e do planeta."

Algumas mulheres Adozindas (duas, vá) descobriram nestes últimos anos que afinal a incerteza é o que temos de mais certo, por isso o que é preciso é “ter muita calma e descontracção natural” e dar valor ao que é realmente importante, porque, quanto a tudo o resto não há grande forma de controlar.
Vem isto na sequência daquela desorganização da minha ordem mundial que provocou a história do casamento do Titi. Não que ele ou o seu casamento tivessem qualquer culpa, nem nada que se pareça, coitadinho do meu menino, mas é como se esse acontecimento tivesse posto a mexer a roda dentada que, de situação estranha em situação estranha, me levou a esta conclusão nos últimos tempos. Com maior ou menor grau de obsessão ou perfeccionismo, tentamos (eu tentava) levar a vida “direitinha”, fazer as coisas pela ordem certa, com as condições certas; há coisas e pessoas que tomamos por adquiridas, outras que consideramos impossíveis. Mas a verdade é que não é nada assim. As nossas pessoas são muito mais frágeis do que pensamos, as coisas boas podem vir de uma forma totalmente inesperada, desorganizada e fora do tempo em que era suposto e as más também têm uma tendência do caraças para nos apanhar de surpresa, vindas do lado mais inesperado.
Parece uma verdade de “La Palisse”, mas tenho que vos dizer para mim perceber realmente o que isto significa foi uma verdadeira revelação dos últimos tempos, talvez porque sempre vivi uma vida muito protegida de tudo quanto eram os cataclismos habituais de tantas outras vidas. Esperamos para ter filhos quando houver 'condições', para comprar casa ou viver junto quando houver 'condições', para casar quando houver 'condições', para mudar de vida, de terra ou de trabalho quando houver 'condições' e tudo isto quando tivermos também 'certezas'...
E se a pessoa que achávamos que era para o resto da vida afinal não for? Se aparecer o trabalho certo no sítio errado? O filho que não estava planeado? A falta de estabilidade no trabalho quando mais contávamos com ele? A pessoa certa para nós, que não encaixa em nada do que tínhamos programado?
Há que reconhecer e aproveitar as coisas boas, mesmo que não venham na altura ou do lugar certos, e encontrar maneira de ultrapassar as más, venham elas quando e de onde vierem. Sobretudo, fazer o que queremos, mesmo que não encaixe nos planos. Mesmo que seja só mais uma aventura e que tudo possa dar errado, porque as coisas que verdadeiramente contam afinal são muito menos do que pensávamos.


15 outubro 2013

Molas que nos unem

Fosse eu uma gaja normal e o pretexto de ter o escritório fechado à força derivado do jogo da selecção seria a desculpa perfeita para um daqueles dias de grande felicidade, a curtir o dolce fare niente, quiçá passar a manhã a bater perna no shopping ou fazer aquela massagem-maravilha que está à espera há tanto tempo que se calhar até já prescreveu.
No caso, a pessoa passa o dia em grande sofrimento, a olhar para o trabalho que trouxe para fazer em casa mas não apetece, e mergulhada num sentimento de culpa tal que nem dá para aproveitar a preguiça... mas pronto, isto cada um tem que viver com as suas pancas, não é verdade?
E se é para arranjar justificação para não trabalhar e ainda assim manter o sentimento de culpa minimamente sob controlo, nada melhor do que vir aqui contribuir mais um bocadinho para que as nossas memórias não se percam. Um dia imprimimos isto tudo, passamos à prensa e ficamos ricos, vocês vão ver!
Continuando em matéria de casamentos, ao casamento da Mó seguiu-se o do meu Titi, um pouco mais inesperado, e cujo anúncio foi um golpe duro na minha ordem natural do mundo, do qual ainda hoje não estou recuperada.
Na minha cabecinha, uma pessoa que saía de uma relação longa tinha que fazer o luto, aprender a estar sozinha, depois tinha que conquistar a relação nova, namorar uma carrada de tempo, ter altos e baixos e então - mas só então e, ainda assim, muito devagarinho - passar à fase seguinte, com a certezinha absoluta do que estava a fazer, porque o casamento é “até que a morte nos separe” e eu levo estas coisas muito a sério. Ora se há coisa complicada é desorganizar as ideias aqui da vossa amiga, porque sabeis que sou uma gaija com as raízes bem enterradas na terra e tenho para mim que há certos conceitos que estão mesmo, mesmo muito lá em baixo... De maneiras que, bem ou mal, toda desenraizadinha mas cheia de alegria pela felicidade do nosso menino, lá alinhei eu na coisa, para o que desse e viesse, como sempre.
Foi o nosso primeiro casamento misto (sim, Maf, ainda não chegava de novidades), e, diga-se em abono da verdade, o sermão do padre foi dos mais memoráveis, sensatos e inteligentes a que assisti. Devo estar a ficar mesmo velha, porque quando uma pessoa começa a ter a sensação de que está a perceber o sermão melhor do que os noivos a quem ele é dirigido, cheira-me que já é um nadinha de experiência de vida a mais! Ainda hoje tenho a imagem da mola da roupa que ele usou e que achei logo tão romântica. Não servem de nada as duas parte da mola, se não houver nada de muito forte a uni-las e a fazê-las funcionar, como mais do que a simples soma dos elementos que a compõem. O padre chamou-lhe Deus, eu chamo-lhe outras coisas: amor, amizade, intimidade, respeito, cumplicidade, que podem muito bem ser outra forma de explicar “mistérios” que outros consideram divinos.
A secção 'casamento civil' fez os possíveis por se apresentar no seu melhor comportamento, mas deixarei às fotos o juízo sobre o sucesso da empreitada. E a festa?
Pois a festa foi maravilhosa, como se não bastasse a simples alegria do ajuntamento Adozinda que sempre se proporciona nestes inventos!

A noivinha estava uma elegância total, muito de acordo com o local da boda, que achei uma perdição de bom gosto, mas o que se esparramou na minha memória para não mais sair foi mesmo o beijo do Bel ao Titi por ocasião do corte do bolo. A pessoa bem que pode pôr aquilo tudo bonito, elegante e sofisticado. Bem pode organizar um fogo de artifício e fazer aparecer um jardim mistério sabe-se lá de onde para o grande momento... mas por muitos anos que passem, não há nada que impeça o nosso Bel de desmantelar aquela organização toda em dois tempos, sem apelo nem agravo! Ainda bem que há coisas que nunca mudam.

03 outubro 2013

E outros acontecimentos dignos de nota


E já que estamos numa de recapitular a matéria, estes últimos dois anos foram também de outras alegrias, com a rendição de uma significativa parte de nós às alegrias do casamento. Se o Ketch já nos tinha deixado com memórias incríveis do seu casamento maravilha (juro que nunca me senti tão apaparicada na vida), os destes últimos anos também foram inesquecíveis, e serão festas a figurar definitivamente na secção “gold” do nosso álbum de recordações.
Para alguns de nós, o casamento da Mó começou dias antes, com a incumbência de criar à pressão a musiquinha de homenagem que depois se tornou tradição. Não posso pensar no casamento dela sem me ver na Madeira, na cozinha do Cachucho, a fazer rimas ridículas, bem regadas a cerveja (opá, acho que era cerveja, mas aquilo na Madeira dá uma tendência para o esquecimentoooo...). Para as meninas foi também a emoção daquela tardada de escolha do vestido, com muitos risos e emoção à mistura. Só a Mónica estava completamente Zen e em modo “gaja prática e racional que eu não tenho tempo para isto” no meio do nosso entusiasmo geral.

Do casamento fica para a história a resistência estóica do nosso Sesé, que quase às portas da morte e a tremer que nem varas verdes pedia à Luísa com toda a paciência do mundo para irem para casa, enquanto ela já tinha destravado a língua e estava para durar até de manhã. Ali é que se viu que aquilo só podia ser amor a sério! 
A nossa noivinha estava linda, linda - completamente a destoar do noivo de olho negro - e aguentou-se que nem uma heroína na dança nupcial, atendendo ao acidentado do terreno. 
O Titi, mal se apercebeu da existência de um microfone na sala, tratou logo de fazer um golpe de estado no palanque do animador. O tipo, coitado, ainda ia tentando uns assomos de resistência armada, entre os momentos de maior desespero, mas a certa altura parece-me que desistiu. Tiveste que lhe pagar um bocadito a mais pela estopada, confessa lá Mó! E quem não se lembra da mítica ideia da “roda-de-beijo-na-boca”? 

02 outubro 2013

Adozindas 2.0



Foi este o ano em que começou verdadeiramente a proliferação Adozinda.

O Gui deixou de ser especimen único e ficou finalmente resolvido o problema do risco de extinção da raça, que começava a agudizar-se.

Não se pode dizer que tenha sido um processo fácil... esperámos todos muito e sofremos bastante para podermos ter os nossos meninos e meninas finalmente connosco e por isso são ainda mais queridos, um tesouro muito valioso.

Todos os meninos e meninas têm a sua história, e outros pais terão outras aventuras. Mas as dos nossos dão certamente bastante que contar. Tivemos esperas longas (tão longas!), grandes esperanças e amargas desilusões, dores no corpo e no coração, forças e fraquezas, medo, risos e choro... risos por fora, quando às vezes víamos bem a dor dos amigos por dentro.
E estivemos todos lá, à nossa maneira. Às vezes não como desejaríamos, mas de acordo com as nossas possibilidades. Seguramente sempre todos bem presentes com as nossas melhores energias para tudo dar certo aos nossos amigos mais queridos.
Quando penso em tudo o que passou, não posso deixar de me maravilhar com o milagre tão bom de já termos as nossas meninas entre nós e o Afonsinho quase a chegar. São meninos especiais, para tratarmos nas palminhas, com muito mimo do bom, para lhes passarmos tudo o que aprendemos, às vezes sozinhos, mas tantas e tantas vezes uns com os outros.
Quero dizer-lhes que esperámos muito, que os queremos muito, que eles e elas são os meninos mais lindos do mundo, por fora e por dentro. Quero juntá-los muiiiito e mostrar-lhes a amizade que nos une, para também eles sentirem que pertencem a uma família muito especial.

São especiais, porque fizeram o meu coração maior. São “Adozindas 2.0”!

01 outubro 2013

Vidas...

Anda a pessoa numa daquelas fases “mas porque é que eu não vou para caixa do Continente” e toca de vir um dia todo bem disposto, de onde menos se espera, para equilibrar a coisa. Hoje ia eu muunnto desanimada por esse país adentro, fazer um julgamento que não me apetecia nada depois de uma semana que não me apetecia nada e já dentro de outra a ir pelo mesmo caminho e deparo-me pois que com um Juiz todo jeitoso e cheio de garra, já para não falar de uma paciência poucas vezes vista nestas andanças. O Advogado da parte contrária fazia o género arrumadinho, muito lavadinho, fatinho engomado a um nível que até enervava, cabelinho impecavelmente penteado, muito sério e ciente da razão do seu cliente, além de já trazer Ipad de série, claro! Não fora a jeitosice do Juiz e acho que eu própria tinha adormecido ainda antes de conseguir fazer a primeira pergunta, pelo que não estranhei de imediato o ar passivo e cabisbaixo que o Oficial de Justiça apresentava lá pelas 4 da tarde, depois de longas horas de julgamento.
Eis senão quando se lembra o Juiz de chamar a criatura para lhe ditar um depoimento para a acta. Depois de uns “Sr. Luís, Sr. Luís, Sr. Luís” em tons sucessivamente mais altos e embaraçados, ei-lo que acorda, o Sr. Oficial, mais enérgico e desperto que nunca, e se levanta de um só salto, logo dirigido à bancada do juiz, que até fez vento na sala de tão vaporoso que estava com a sua capa preta esvoaçante.
O Juiz lá lhe fez um gesto discreto para se sentar e começar a escrever, enquanto eu me esforçava sem grande sucesso para conter o riso, ante o ar sorumbático do colega arrumadinho, que nem deu por nada de tudo aquilo, e uma piscadela de olho do juiz, que me viu cúmplice na piada.
Como é fácil de animar uma pessoa de gostos simples.

28 abril 2010

Ajuntamento de Primavera, que é como quem diz, o nosso "Pentecostes", vá!

Pessoali,
Só para animar aqui o tasco, que isto vai uma actividade que não se pode, tenho a comunicar que a nossa amiga Joana Benzinho, (sim, essa desterrada das Europas), vai fazer uma visitinha à malta de Coimbra no próximo dia 14 de Maio que - calha bem - também é Queima e altura de aniversário de uma série de Adozindame que por aí ainda.
Não quereizeee, por acaaaaaso, pensar em aproveitar o ensejo para juntar a malta?
Eu sei que ainda estamos em dívida com o Sesé, mas...

28 fevereiro 2010

Parabéns Sesé!!!

Mais um aniversariante na família Adozinda!
Deviamos ter celebrado assim... Já se fazia outra jantarada destas cá em casa, ou noutra qualquer! Muitos anos de vida, cheios de coisas boas para partilharmos juntos e, de preferência, que te mantenhas cá por perto, em terras lusas, por uns tempos!
Beijos!