15 outubro 2013

Molas que nos unem

Fosse eu uma gaja normal e o pretexto de ter o escritório fechado à força derivado do jogo da selecção seria a desculpa perfeita para um daqueles dias de grande felicidade, a curtir o dolce fare niente, quiçá passar a manhã a bater perna no shopping ou fazer aquela massagem-maravilha que está à espera há tanto tempo que se calhar até já prescreveu.
No caso, a pessoa passa o dia em grande sofrimento, a olhar para o trabalho que trouxe para fazer em casa mas não apetece, e mergulhada num sentimento de culpa tal que nem dá para aproveitar a preguiça... mas pronto, isto cada um tem que viver com as suas pancas, não é verdade?
E se é para arranjar justificação para não trabalhar e ainda assim manter o sentimento de culpa minimamente sob controlo, nada melhor do que vir aqui contribuir mais um bocadinho para que as nossas memórias não se percam. Um dia imprimimos isto tudo, passamos à prensa e ficamos ricos, vocês vão ver!
Continuando em matéria de casamentos, ao casamento da Mó seguiu-se o do meu Titi, um pouco mais inesperado, e cujo anúncio foi um golpe duro na minha ordem natural do mundo, do qual ainda hoje não estou recuperada.
Na minha cabecinha, uma pessoa que saía de uma relação longa tinha que fazer o luto, aprender a estar sozinha, depois tinha que conquistar a relação nova, namorar uma carrada de tempo, ter altos e baixos e então - mas só então e, ainda assim, muito devagarinho - passar à fase seguinte, com a certezinha absoluta do que estava a fazer, porque o casamento é “até que a morte nos separe” e eu levo estas coisas muito a sério. Ora se há coisa complicada é desorganizar as ideias aqui da vossa amiga, porque sabeis que sou uma gaija com as raízes bem enterradas na terra e tenho para mim que há certos conceitos que estão mesmo, mesmo muito lá em baixo... De maneiras que, bem ou mal, toda desenraizadinha mas cheia de alegria pela felicidade do nosso menino, lá alinhei eu na coisa, para o que desse e viesse, como sempre.
Foi o nosso primeiro casamento misto (sim, Maf, ainda não chegava de novidades), e, diga-se em abono da verdade, o sermão do padre foi dos mais memoráveis, sensatos e inteligentes a que assisti. Devo estar a ficar mesmo velha, porque quando uma pessoa começa a ter a sensação de que está a perceber o sermão melhor do que os noivos a quem ele é dirigido, cheira-me que já é um nadinha de experiência de vida a mais! Ainda hoje tenho a imagem da mola da roupa que ele usou e que achei logo tão romântica. Não servem de nada as duas parte da mola, se não houver nada de muito forte a uni-las e a fazê-las funcionar, como mais do que a simples soma dos elementos que a compõem. O padre chamou-lhe Deus, eu chamo-lhe outras coisas: amor, amizade, intimidade, respeito, cumplicidade, que podem muito bem ser outra forma de explicar “mistérios” que outros consideram divinos.
A secção 'casamento civil' fez os possíveis por se apresentar no seu melhor comportamento, mas deixarei às fotos o juízo sobre o sucesso da empreitada. E a festa?
Pois a festa foi maravilhosa, como se não bastasse a simples alegria do ajuntamento Adozinda que sempre se proporciona nestes inventos!

A noivinha estava uma elegância total, muito de acordo com o local da boda, que achei uma perdição de bom gosto, mas o que se esparramou na minha memória para não mais sair foi mesmo o beijo do Bel ao Titi por ocasião do corte do bolo. A pessoa bem que pode pôr aquilo tudo bonito, elegante e sofisticado. Bem pode organizar um fogo de artifício e fazer aparecer um jardim mistério sabe-se lá de onde para o grande momento... mas por muitos anos que passem, não há nada que impeça o nosso Bel de desmantelar aquela organização toda em dois tempos, sem apelo nem agravo! Ainda bem que há coisas que nunca mudam.

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