01 outubro 2013

Vidas...

Anda a pessoa numa daquelas fases “mas porque é que eu não vou para caixa do Continente” e toca de vir um dia todo bem disposto, de onde menos se espera, para equilibrar a coisa. Hoje ia eu muunnto desanimada por esse país adentro, fazer um julgamento que não me apetecia nada depois de uma semana que não me apetecia nada e já dentro de outra a ir pelo mesmo caminho e deparo-me pois que com um Juiz todo jeitoso e cheio de garra, já para não falar de uma paciência poucas vezes vista nestas andanças. O Advogado da parte contrária fazia o género arrumadinho, muito lavadinho, fatinho engomado a um nível que até enervava, cabelinho impecavelmente penteado, muito sério e ciente da razão do seu cliente, além de já trazer Ipad de série, claro! Não fora a jeitosice do Juiz e acho que eu própria tinha adormecido ainda antes de conseguir fazer a primeira pergunta, pelo que não estranhei de imediato o ar passivo e cabisbaixo que o Oficial de Justiça apresentava lá pelas 4 da tarde, depois de longas horas de julgamento.
Eis senão quando se lembra o Juiz de chamar a criatura para lhe ditar um depoimento para a acta. Depois de uns “Sr. Luís, Sr. Luís, Sr. Luís” em tons sucessivamente mais altos e embaraçados, ei-lo que acorda, o Sr. Oficial, mais enérgico e desperto que nunca, e se levanta de um só salto, logo dirigido à bancada do juiz, que até fez vento na sala de tão vaporoso que estava com a sua capa preta esvoaçante.
O Juiz lá lhe fez um gesto discreto para se sentar e começar a escrever, enquanto eu me esforçava sem grande sucesso para conter o riso, ante o ar sorumbático do colega arrumadinho, que nem deu por nada de tudo aquilo, e uma piscadela de olho do juiz, que me viu cúmplice na piada.
Como é fácil de animar uma pessoa de gostos simples.

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